A Capela do Senhor do Bom Despacho integra o conjunto arquitetónico do Mosteiro de Santo André de Ancede. A construção desta capela situa-se na primeira metade do século XVIII, refletindo o gosto arquitetónico da época, ao adotar a planta octogonal e o estilo joanino, tipicamente barroco para a decoração do interior em talha dourada e policromada. Desde a segunda metade do século XVI que o Mosteiro de Santo André de Ancede se encontrava na posse do Convento de S. Domingos de Lisboa, pelo que esta ligação está profundamente materializada na decoração escultórica e pictórica desta capela.
A temática decorativa da capela é a do Rosário, estando explícita na repetição do elemento da rosa que decora todos os retábulos laterais da naves, mas especialmente na tela pintada existente na tribuna do retábulo-mor, onde a Virgem Maria entrega o Rosário a S. Domingos, utilizado pelo monge dominicano na conversão dos hereges à fé católica. Na mesma tela é visível S. Domingos que entrega o mesmo rosário a um dominicano. E no fundo da tela está representado uma cena do Purgatório em chamas com várias personagens que representam diferentes classes sociais e que estendem as mãos pela salvação.
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Todos os conjuntos escultóricos dos retábulos apresentam os Mistérios de Cristo, de uma forma tridimensional e teatral, como uma verdadeira peça de teatro. As esculturas encontram-se posicionadas como atores de teatro, enquadradas em palcos com cenários pintados e cortinas esculpidas. As figuras principais ligadas a Cristo são sempre esculpidas em talha dourada enquanto as restantes, as secundárias, são apenas policromadas.
A nave de feição octogonal apresenta um conjunto de seis retábulos com os Mistérios Gozosos. Neles podemos assistir às cenas da Anunciação, Visitação, Nascimento de Cristo, Circuncisão, Visita dos Reis Magos e à Apresentação no templo.
No forro do teto da nave estão representados os símbolos marianos, como a torre, o cedro, a palma, o espelho, o sol e a lua, para além do brasão dos Dominicanos.
Os Mistérios Dolorosos e Gloriosos estão retratados nos retábulos da capela-mor, cujos caixotões do teto integram os símbolos da Paixão.
A parte do retábulo dos Mistérios Dolorosos foram certamente executados numa fase posterior, uma vez que o retábulo-mor onde aquele encaixa foi grosseiramente serrado para o efeito, ficando assim escondidas as bases das colunas principais. Os mistérios dolorosos estão representados em seis painéis para além de Cristo Crucificado que está colocado sobre este conjunto. Nestes painéis temos a representação da Agonia de Cristo no jardim da Oliveiras; o momento da Traição de Judas, identificado com o saco dos 30 dinheiros; a Flagelação; o Ecce Homo; momentos da Paixão de Cristo (mulheres que choram, Cristo com a Cruz e Verónica); e por último Cristo no santo sepulcro representado numa peça única em terracota de grande beleza escultórica.
Na parede do lado esquerdo da capela-mor temos um retábulo que ilustra a Ressurreição de Cristo apesar de “guardado” pelos soldados romanos e em frente o retábulo da Ascensão de cristo na presença das figuras dos Apóstolos Pedro, Tiago e João. O olhar deve seguir novamente para a parte superior do retábulo-mor para as figuras representativas da Divina Trindade, para a Assunção de Nossa Senhora aos céus e a sua Coroação e por fim junto ao forro do teto temos uma pequena cartela que simboliza o Pentecostes.
Atrás do retábulo-mor desenvolve-se um pequeno deambulatório, preparado para receber várias peças esculturais mas das quais apenas se conserva um Calvário em terracota. Há poucos anos foram também identificados vestígios de pinturas murais.
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