Património religioso, Terra de Cultura, Terra Milenar

MACC BAIÃO – Mosteiro de Ancede Centro Cultural

Séc. XII – Séc. XIX

Apesar de se desconhecer a data da sua fundação, sabe-se que em 1120 este Mosteiro pertencia já à Diocese do Porto, estando ligado aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Em 1141, D. Afonso Henriques vende a Carta de Couto ao abade do Mosteiro por 150 morabitinos.  Em 1560, é anexado ao Convento de São Domingos de Lisboa, por decisão do Papa Pio IV.  No século XVIII constroem-se vários edifícios que ainda hoje notabilizam este conjunto arquitetónico: os Celeiros e a Adega, a Capela octogonal de Nosso Sr. do Bom Despacho e, provavelmente, o Fontanário.  Nos inícios do séc. XIX, o Mosteiro foi vendido em hasta pública, ficando na posse do barão de Ancede.

Do séc. XV aos nossos dias

Na 2ª metade do Séc. XVI, o Mosteiro atravessava uma fase de decadência visível no número reduzido de monges que aí habitava, estando a gestão do seu património entregue a um comendatário. Em 1560 por solicitação de D. Catarina da Áustria, então Regente do Reino, o Papa Pio IV, edita a bula que permite a anexação do Mosteiro de Ancede pelo Convento de S. Domingos de Lisboa. No entanto, o Mosteiro continuou a produzir vinho de qualidade que passou a ser encaminhado por mar para sustento da casa-mãe em Lisboa (BARROS, 1998), tendo sido na centúria de Quinhentos que se embelezou os espaços do Mosteiro ao adquirir várias obras de arte. Destas destaca-se o belíssimo tríptico flamengo da autoria de Joos van Cleve de 1530 (LORENA, 2016).

No séc. XVII fazem-se já grandes obras de remodelação ao substituírem as duas igrejas que faziam parte do Mosteiro por um novo edifício de três naves com três capelas ornamentadas e com um coro, tendo sido concluída em 1689 (Livro 3529, fólio 43 verso e fólio 44, de 1746). Esta descrição corresponde ao aspecto actual da igreja de Ancede. A igreja da freguesia era composta por duas naves, o que pressupõe dimensões mais modestas. Datará também do séc. XVII a cerca do Convento de Ancede, uma vez que nos surge num documento a referência de que no ano de 1692 o convento se encontrava já “tapado de muro em toda a roda” (Livro 3529, fólio 45, de 1746)

No século XVIII, o então Convento de Ancede deve ter continuado a viver um período de expansão económica pois datam dessa época grandes obras de remodelação, como sendo a construção dos Celeiros e da Adega (em 1722), a construção da Capela do Senhor do Bom Despacho em 1731, e por fim o Portal Norte em 1735, portal que fecha este conjunto ao ter sido construído acoplado a uma das paredes da capela e do Celeiro. No entanto, o Auto de mediação da Igreja, convento e cerca datado de 1745, refere que a torre ameaçava ruir, pelo que se encontrava parcialmente demolida. A ala poente do Mosteiro é tida como sendo muito antiga, ainda do tempo dos cónegos. Aí se localizava a livraria e 6 celas.

A ala sul é já referida como a ala nova, onde se localiza, no andar inferior e na direcção de nascente a poente, a sala “de profundiz”, o refeitório e a despensa. No andar superior, localizava-se a barbearia e 3 celas, uma das quais “assistiam os padres procuradores”. Na ala nascente, localizava-se a casa do despacho, a cela dos procuradores gerais e mais duas celas. Nesse documento, é descrito o claustro fechado “com telheiro” em toda a volta com excepção do lado norte (igreja), apoiado em colunas de pedra. O pavimento é descrito como sendo todo em terra, com sepulturas junto da sacristia e da igreja.

A Casa da Hospedaria e a Casa dos Moços, corresponde, grosso modo, ao edifício que serviu como casa de caseiro. No séc. XVIII, era um edifício de maiores dimensões tendo-se detectado nas escavações realizadas em 2005 o limite exterior, localizado a sul da atual parede exterior. A seguir a esta, em direcção a nascente, localizava-se a casa do lagar e a do forno, que com os seus alpendres, fechavam o pátio, encostando ao Fontanário.

Com a expulsão das Ordens Religiosas em Portugal durante a 1ª metade do séc. XIX, o Convento foi vendido em hasta pública, ficando na posse do Barão de Ancede, que aí faz um colégio para raparigas. Na fachada do portão norte é ainda visível o seu brasão. Como a Igreja e a Capela ficaram à margem deste processo de venda, foram restituídas à Paroquia em 1932.

Algumas reflexões sobre o Conjunto Arquitectónico de Ancede 

No artigo citado de Amândio Barros podemos depreender que foram várias as obras e os melhoramentos que este Mosteiro sofreu ao longo dos dois séculos sobre os quais este historiador se debruçou. No entanto, está por fazer a História arquitectónica deste importante edifício e de todas as estruturas anexas. O aspecto exterior da Igreja parece inserir-se no estilo arquitectónico conhecido como “estilo chão” que se caracteriza por um despojamento decorativo, por volumetrias quadrangulares e por uma sobriedade e rigor geométrico que tão bem se enquadra em estilos de gosto clássico, como o foram o Renascentismo, o Maneirismo e mais tarde o Neoclassicismo. Este estilo chão manifestou-se em Portugal desde os finais do séc. XVI e perdurou até aos finais do século XVII.

Apesar de serem posteriores, o edifício do Celeiro, o Fontanário e o Portal Norte parecem inserir-se no mesmo estilo arquitectónico. Podemos estar a assistir a uma perduração deste estilo nos inícios do século XVIII. Note-se ainda a preocupação em manter a simetria da fachada no grande edifício do Celeiro. Essa simetria foi alcançada pela colocação das pilastras, independentemente da divisão interna que se efectuou no corpo do edifício. Os Celeiros exibem a data de 1722, a capela octogonal do Senhor do Bom Despacho data já de 1731 e o portal que fecha todo este conjunto construído acoplado à Capela e ao grande edifício que terá funcionado como armazém ostenta a data de 1735 e o brasão do Barão de Ancede. A sobriedade exterior da Capela octógonal contrasta profundamente com a decoração do seu interior, onde predomina o estilo barroco.

Apesar do portal ter sido construído pouco depois dos Celeiros, o facto de o ter sido acoplado à parede externa da fachada desse edifício, faz com que passe a perturbar a sua leitura, ao desrespeitar a preocupação de simetria e de rigor geométrico tido na sua construção. Somos então da opinião que se assiste em Ancede a uma perduração deste estilo nos inícios do século XVIII, sobretudo no que diz respeito à decoração das fachadas, ao manterem o mesmo tipo de pináculos, as pilastras e as volutas que também caracterizam a Igreja de Ancede, cuja conclusão data de 1689.

O fontanário deverá também ter sido construído pela mesma altura a avaliar pela sua decoração, mas também pelo sítio em que foi implantado. Todos estes edifícios: Celeiro, Adega, Fontanário e Capela foram certamente construídos com base num projecto global, já que obrigou ao corte do terreno, a um desaterro a nascente necessário à sua implantação. Ao mesmo tempo, o desaterro fez com que se aterrasse o patamar que medeia este conjunto e o da Igreja e ala nascente do Mosteiro, situadas a uma cota bastante inferior. Este aterro obrigou então à construção de um muro de suporte junto dessa ala nascente, que vem tapar as janelas da actual sacristia da Igreja.

A Capela do Senhor do Bom Despacho que se encontra no mesmo patamar da Igreja foi então construída adossada a este muro de suporte.

 

ATIVIDADES:
Visita orientada.

 

HORÁRIO*:

  • 10h00 às 13h00 (última entrada para visita às 12h00)
  • 14h00 às 18h00 (última entrada para visita às 17h00)

 

VISITAS ÀS RUÍNAS*:

  • Manhã: 10h00, 11h00 e 12h00
  • Tarde: 14h00, 15h00, 16h00 e 17h00

*É aconselhável a marcação prévia, uma vez que se dará prioridade na entrada a quem tem marcação.

 

ESPAÇOS NÃO VISITÁVEIS TEMPORARIAMENTE:

Centro Interpretativo da Vinha e do Vinho

Visitas à Quinta

 

ENCERRADO: Segunda.

Tabela

 

BIBLIOGRAFIA:

BARROS, Amândio (1998). O património do Mosteiro de Ancede na Idade Média (séculos XII-XIV). In. Actas do Colóquio “Serra da Aboboreira e a região do Douro. Arqueologia e Natureza. Valores a potenciar”, ed. polic., Baião.
BARROCA, Mário Jorge (1984), Notas sobre a ocupação medieval em Baião, Arqueologia, 10, 129.
CÂMARA MUNICIPAL DE BAIÃO, Plano Director Municipal. Descritor do Património Cultural, ed. polic., Baião.
LORENA, Mercês. (2016). Tríptico do Mestre de Ancede. In. Joel Ferreira Mata, Baião: Em torno do ano 1500. (pp. 70-74). Casal de Cambra: Caleidoscópio.
PEREIRA, Fernando António Baptista (1992), História da Arte Portuguesa. Época Moderna (1500-1800). (pp. 42-92). Lisboa: Universidade Aberta.

Sugestão: Clique nas imagens para ampliar.

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