Escritores, Terra de Cultura

Alves Redol

Filho de António Redol da Cruz e de Inocência da Purificação Alves, António Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira a 29 de dezembro de 1911. Alves Redol começou a publicar os seus textos muito antes de publicar livros, tendo publicado, pela primeira vez, com apenas quinze anos, um artigo no jornal Vida Ribatejana, datado de 10 de julho de 1927, no qual “ defende a instalação de uma biblioteca pública na terra ” ( Redol, 2013, p.18 ).

No ano seguinte, viaja para Angola na expetativa de organizar a sua vida; arranja emprego, de facto, mas o salário não é tão alto quanto gostaria e, por isso, “ dá lições numa escola noturna daquilo que aprendeu no seu curso secundário ” (Alves Redol: 50 anos de Gaibéus, [s.d.], p. 2 ) . Ainda em África, contrai Malária, doença que o fragilizou para o resto da vida, levando-o a regressar a Portugal em 1931, tornando-se empregado de escritório. Começa então a participar ativamente na vida social do concelho de Vila Franca de Xira, através do Grémio Artístico Vilafranquense, sendo palestrante e organizador de várias conferências e palestras, sempre defensor da classe de trabalhadores; no entanto, a polícia política encerra esta coletividade, marcando aquela que viria a ser uma relação de conflito entre o escritor e o estado repressor, levando-o a colaborar, mais tarde, com jornais de relevo na vida nacional antissalazarismo, como O Diabo, por exemplo, no qual publica, pela primeira vez, o conto de contexto africano «Kangondo».

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Este clima de tensão provocado pela repressão política, levou a que Alves Redol e outros escritores da época se inserissem na corrente literária neorrealista, associada ao movimento de resistência democrática à ditadura salazarista. Alves Redol foi, pois, beber ao Realismo de autores como Eça de Queiroz, o sentido crítico com que descrevia a sociedade do seu tempo. Aliás, Redol chegou mesmo a afirmar: «Se o Camilo me comoveu, a ironia do Eça deliciou-me […] Foi pela sua mão que me cheguei à janela da Europa. E logo alinhei num grupo de rapazolas estudantes conhecido em Vila Franca por “ mocidade esperançosa”» (Redol, 2013, p.19). Assim, “se Gaibéus é o primeiro romance de Alves Redol, ele também representa uma data histórica na introdução do neo-realismo em Portugal, corrente literária sem a qual não se poderá entender o contexto económico-social português” (Alves Redol: 50 anos de Gaibéus, [s.d.], p. 3).

Homem convicto e de ideais, Alves Redol luta sempre pela classe trabalhadora, sendo preso em 12 de maio de 1944, praticamente um ano depois de ter nascido o seu primeiro e único filho, António de Mota Redol.
Fruto da pressão exercida sobre os seus editores, Alves Redol é sujeito à entidade censória, sendo, durante vários anos, o único escritor português a ter de submeter os seus originais a censura; no entanto, esta situação humilhante não o inibe de continuar a escrever e a participar ativamente na vida social: em 1947 é nomeado secretário-geral da secção portuguesa do Pen Club—associação internacional de escritores – seguindo, “ no ano seguinte para Wroclaw, na Polónia, integrado na Delegação Portuguesa que intervém no Congresso dos Intelectuais para a Paz, onde fala em nome da delegação” (ibidem) . A polícia política sabia que Alves Redol era um escritor muito acarinhado pela classe trabalhadora, pelo que este nunca deixou de estar sob a vigilância da PIDE. Em 1961 inicia carreira na publicidade, pois o que ganha com os livros não é suficiente à sua subsistência e, em outubro de 63 é novamente preso. Acaba por falecer a 29 de novembro de 1969, com apenas 57 anos, no Hospital de Santa Maria.

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